Quetzacoátl

O lambe sempre me levou pra fronteira. Talvez porque pra mim lambe é fronteira, é quase como um portal que mostra através de papel e ideia que uma história é mais que frente e verso. E a partir dele fui parar em Tijuana, pra colar no muro que divide México e EUA, a imagem de Quetzacoátl: uma divindade representada pela imagem de uma serpente emplumada, que parece de fato um grande dragão! É um símbolo cultuado na cultura mexicana (mas não só), a ponto de estar atrás da camisa da seleção de futebol. Dentre suas muitas simbologias está a criação e transgressão de... fronteiras.

Entendi quando comecei a conversar sobre a possibilidade de construir esse trabalho feito coletivamente que eu seria o meio pra produzir a mensagem. Foi tudo feito ali na raça, de maneira voluntária, com estrutura mínima e em 4 dias: da chegada ao planejamento, cálculo, impressão, colagem e partida.

Essa vontade toda de fazer acontecer era porque tinha um projeto lindo por trás, chamado Casa de Luz, que em resumo é uma casa coletiva formada por e para a comunidade LGBTQIA+ e diversas famílias, bem como para a comunidade migrante em Tijuana. Muito amor mermo, coletividade e respeito como nunca havia experienciado na vida. Em Tijuana estive com pessoas vindas da Argentina, Chile, Colômbia, Coréia do Sul, Cuba, EUA, Guatemala, Rússia - e provavelmente outros países.

Nessa invenção chamada fronteira, que no caso de Tijuana é materializada em quilômetros de um muro de metal com 15m ou mais de altura, entendi que o que transgride a fronteira é a cultura. É ela que cruza por todos os lados, como Quetzacoátl.

O restante dessa história, vou deixar pra zine que vou produzir, porque não há experiência humana que caiba num carrossel, post e algoritmo.

Antes de encerrar, deixo o meu agradecimento à todas as pessoas com quem cruzei e em especial ao Irving, Tania, Jonathan, Leandro e Sergei por todo apoio, suporte, coragem e afeto.